terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Como disse?

‘Mi-gué-el’... ‘Sim, Sr. Hoffmann’.... Ah, puta de vida. Quatro e meia, e, depois do sacramental ‘Bo-AAASSHHH’ (as in ‘boas tardes’, expressão transbordante de rústica portugalidade) que se tinha seguido à enérgica entrada no, chamemos-lhe assim, departamento de marketing (eu, português, autor dos dizeres, o Alexandre, francês, motivador encartado de equipas multidisciplinares e multinacionais, a Mariola – polaca, faz os bonecos – e o “SENHOR ENGENHEIRO”, façam favor, arqueólogo numismático, sigilógrafo, sobrevivente – até ver – de cancro da próstata, escarrador lusitaníssimo de craveira olímpica), o Sr. Hoffmann tinha tomado assento à mesinha do canto, e espiolhado durante uns minutos a minha súmula da crise económica em curso e a minha antevisão das cotações de valores em ouro físico (as opposed to ouro espiritual), com particular ênfase em moedas de ouro (palavra, ouro, que o Sr. Hoffmann se orgulha de pronunciar “Urrô”). ‘Sim, Sr. Hoffmann?’ disse eu, já em pleno voo para junto dele... ‘O Mi-guel diz aqui ‘a rêdução que se vem a obserrvarr nas tirragens das emissões’... Não pode sêarr ‘quê vem à obserrvarr-se’?... ‘Por acaso, não só pode, como deve... Bem caçada... E assim evita-se o innuendo do ‘se vem’... Ele estava sentado, eu em pé... Levantou para mim os olhinhos piscos, arregaçando bem alto as sobrancelhas, calado. Não tinha percebido... ‘Evita-se o verbo ‘vir-se’... A implicação de voyeurismo de ‘vir-se a observar’... A expressão não mudou. Não percebia em Português, não percebia em Francês. Nunca tinha seguido o cherne, peixe recalcado. Mas gostou de que eu tivesse tão prontamente reconhecido a sua superior maîtrise do Português... Palmas para mim.

1 comentário:

  1. Infelizmente nao consigo deixar um comentario inteligente sobre as entradas com o sr. Hoffmann mas que sao geniais sao.

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