quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O que é que o Miguel gosta de fazeârr mais? O que é que le dá o mais de prrazeârr?’ O Sr. Hoffmann estava à espera do elevador e eu acabava de passar por ele, depois de um interminável e esgotante dia de trabalho perfeitamente inútil, a caminho das escadas e de casa; a pergunta apanhou-me pelas costas... O elevador parou com um solavanco; a lâmpada do corredor apagou-se. Ir ao cinema, ouvir música, ler, sair com os amigos, passear... (Bem-vindo a ‘O Preço certo em Euros’; venha jogar!). A luz do outro elevador, que passava, cheio de gente feliz, alheia ao drama, percorreu-o de alto a baixo; vi os olhos dele nos meus... Lembrei-me da palavra alemã para elevador: ‘fahrstuhl’: ‘cadeira de viagem’. Estar fechado em casa, pesar cada grama do que como, ver televisão, falar sozinho, procurar os sinais mais óbvios da minha óbvia demência... Mais alguns segundos... Ele saboreava o meu embaraço... O seu hálito tinha deslizado como uma cobra pela penumbra e pelo silêncio até mim. O cheiro a alho era insuportável... As escadas estavam a um passo, ao fundo delas a liberdade. Passou-me pela cabeça fugir, simplesmente, largar ali o Sr. Hoffmann e os seus tormentos, mas contive o impulso. Tinha de dizer qualquer coisa… ‘Fumar’ foi o que me saiu; ‘Gosto de fumar’... Ele abriu a porta do elevador. ‘Então egzperrimente scrreveârr um tecst sobrre a voluptade do fumo, sobrre o prrazeârr que o fumo lhe dá... Vai veârr que é um ecselente egzercice’. A porta do elevador fechou-se, a luz do tecto acendeu-se, apagando o sorriso que ele deixara a pairar no escuro...

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