quarta-feira, 3 de junho de 2009

And now for nothing remotely different

...É o snake, ao que parece. Ao que parece, há perto de um mês que aqui não há action. Apetecer-me-ia dizer (fuck it - apetece-me, e que se foda o futuro do pretérito) que é a arte a imitar a vida, mas nem o que para aqui está pode ser qualificado como arte, nem a subtracção dos meus dias pode ser qualificada como vida... No action, em todo o caso, diz tudo. Há bons motivos para o silêncio. Fiz 41 anos. Razão tinha o paco bandeira (olá, paco, por onde tens tu andado?) ao falar da tortura dos 40. Everything falls apart (husker du): the sleep of the just tired (g. vidal) foi-se - nem me lembro da última vez que dormi bem; as dores - não as existenciais, mas as físicas - tornaram-se constantes (ombros, costas, dentes, cabeça): dor durante o dia, dor durante a noite, em configurações variadas (cabeça e costas, neste momento, ontem todas ao mesmo tempo) e diferentes intensidades, mas constantes... A sinusite, entusiasmada com a imprevisibilidade do tempo (calorão há três ou quatro dias, hoje a acenar com chuva-chuvinhá, por onde andas tu, linda de suzá?) came back with a fucking vengeance. Tem-me valido a música (na acepção mais lata, concedo)... É irónico que alguém tão impassível como eu goste tanto de música que vive nos extremos não só do espectro sonoro (entre os subsons e os infra-sons nada senão ruído branco) como nos do espectro emocional - ódio, pânico, luxúria, desespero. Melancolias, tristezas sussurradas, belezas funéreas (noutros tempos o pão meu de cada dia) parecem ter por inteiro perdido lugar no imenso vazio do meu ínfimo universo: nick drake, durutti column, blue nile, to name but three, por onde têm vocês andado? Tudo o que ouço poderia fazer parte da banda sonora dos gritos do munch (não dos do wes craven) e, no entanto, olhando para mim, eu (mais ninguém o faz), em cuja existência nos últimos anos nem o mais subtil dos instrumentos detectaria uma oscilação, um estremecimento, acabo sempre a perguntar-me se é por falta de alma (ânimo) que me empanturro assim de som e de fúria... O lado positivo de tudo isto é que, tendo começado esta jeremíada com a intenção de deixar um post-it (três linhas a ameaçar a chegada, um destes dias, de trinta) acabei por dactilografar uma coisa em forma de assim que, considerando a crise e as baixas expectativas de um público à beira da extinção, não me parece indigna de suceder às merdas solipsistas que a precederam...

5 comentários:

  1. Snake, és completamente lunático. Deixa-te estar assim que a gente gosta. Parabéns pelos 41. É uma bela idade.

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  2. opa! traz mas e de volta o sr. Hoffmann. A gente gosta mais.

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  3. e ainda tive que ir ver o que era solipsista...

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  4. Sempre achei que eras gajo para fazer 41, mas para não deixares que os 41 te fizessem a ti. Resta-me pouca esperança!
    De qualquer modo, atenta que se fizesses agora 30, terias mais 11 pela frente.
    Now that's a cheerful thought!
    Fred

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  5. A boa notícia: quem vira pedras em jardins alheios corre novamente o risco de encontar o snake.

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