terça-feira, 30 de junho de 2009
Não vire as costas...
...à disfunção eréctil. Vim aqui check the action. No action. No problem. E dei de caras, so to speak, com um dos anúncios em que este meu blog é fértil (em geral a produtos de emagrecimento, créditos por telefone, etc.), e que, com a extraordinária afluência de público que o caracteriza, me hão-de em breve tornar rico. "Não vire as costas à disfunção eréctil". É boa. Think about it. Tenho disfunção eréctil - um supônhamos. Sinto-me abatido, na fossa, de crista caída, cabisbaixo (get it?). Entro em negação - seguindo o modelo Kübler-Ross (denial, anger, bargaining, depression, acceptance)... Viro as costas à disfunção coiso... Shit. Cá está ela, à minha frente, como de costume. Virar-lhe as costas é tão difícil como encarar bem de frente furúnculos no rabo. Exige talentos de contorcionista ou de miúda do exorcista. Ou exigiria - lembremos, tratava-se de um supônhamos. Na verdade, essa é uma das poucas disfunções que persistem em escapar-me: se posso queixar-me de alguma coisa, nesse campo (para além de da falta de action), é de hiperfunção eréctil (talvez, come - get it? - to think of it, por causa da falta de action). Priapismo. Sou um sátiro, um verdadeiro deus-pan à espera da sagração da Primavera, cascudo e cornudo, de olhinhos lúbricos sempre alerta, sempre à espreita... Ó ironia cruel, ó Deus-deus que dás nozes a quem não tem dentes... E pronto(s). Melhores dias virão (mas só depois de virem piores).
sexta-feira, 19 de junho de 2009
¿Que es más macho?
Pineapple o knife? Acordei a cantarolar "Smoke Rings", da Laurie Anderson... A Laurie é casada (ainda?) com o Lou Reed, mas no tempo, in illo tempore (há mais de 20 anos), em que eu a considerava, kind of, a mulher ideal - bonita (é discutível, bem sei), inteligentíssima, criativa, espirituosa (tudo indiscutível), era uma miúda livre (acho eu), e talhada (achava eu) para um gajo ideal (all of the above a propósito da mulher ideal, menos a beleza). Claro que ela frequentava a cena downtown de Nova Iorque, enquanto eu, fora para ir (de dia) à Contraverso, não punha os pés sequer no Bairro Alto (que era a cena downtown NY de Lisboa). Não obstante esse pequeno obstáculo de falta de intersecção dos nossos círculos sociais, a minha imaginação - nesse tempo, tinha alguma imaginação - era bem menina para nos fazer dar de caras um com o outro... enfim, não sei onde nem em que circunstâncias (foi há muito tempo, in illo tempore), mas com resultados cupídicos inevitáveis. Só para clarificar: eu não levava a capa do Big Science (era um LP - uma rodela de plástico com um diâmetro de 30 cm, for those of you out there que ainda não tinham nascido - capa, portanto, a condizer) para a minha modesta casinha-de-banho na minha modesta casinha ali ao cemitério da Ajuda (tenho queda para moradas próximas de cemitérios; agora ironicamente, do dos Prazeres - a minha última morada?) para obter a solitária gratificação que, então como hoje, era o alfa e o ómega da minha vida sexual; não: eu e a Laurie éramos soulmates (nesse tempo, tinha alguma alma, ou se calhar, era a minha imaginação a arrebatar-me), e o nosso amor vindouro era uma coisa pura, elevada, espiritual (o resto viria a suo tempore, em Latim macarrónico). And what is the point of all this? E porque é que tantas línguas bárbaras se sucedem neste arremedo de o que quer que isto seja, e porquê tantos travessões, parênteses, boxes within boxes, reticências (...)? Não faço ideia. Eu e a Laurie temos certamente uma coisa em comum agora - estamos velhos, gastos, acabados, uns cavacos (do Lou Reed nem falo). Cupido não chegou a fazer de nós um Kebab; arrastei-me pelo BA, durante anos, mas não dei por lá de caras com a Laurie (apesar de ter espreitado, na Expo98, o Lou). Em NY, nunca estive nem estarei... Mas acordei hoje a cantarolar o smoke rings ("Desire! It's cold as ice and then hot as fire. Desire! First it's red and then it's blue, and everytime I see an iceberg it reminds me of you"), e dei por mim a pensar que deixei de pensar fosse em quem fosse, a concluir que I no longer love the way anyone holds their pens... and pen(pausa)cils... Mister Heartbroken, that's me.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
And now for nothing remotely different
...É o snake, ao que parece. Ao que parece, há perto de um mês que aqui não há action. Apetecer-me-ia dizer (fuck it - apetece-me, e que se foda o futuro do pretérito) que é a arte a imitar a vida, mas nem o que para aqui está pode ser qualificado como arte, nem a subtracção dos meus dias pode ser qualificada como vida... No action, em todo o caso, diz tudo. Há bons motivos para o silêncio. Fiz 41 anos. Razão tinha o paco bandeira (olá, paco, por onde tens tu andado?) ao falar da tortura dos 40. Everything falls apart (husker du): the sleep of the just tired (g. vidal) foi-se - nem me lembro da última vez que dormi bem; as dores - não as existenciais, mas as físicas - tornaram-se constantes (ombros, costas, dentes, cabeça): dor durante o dia, dor durante a noite, em configurações variadas (cabeça e costas, neste momento, ontem todas ao mesmo tempo) e diferentes intensidades, mas constantes... A sinusite, entusiasmada com a imprevisibilidade do tempo (calorão há três ou quatro dias, hoje a acenar com chuva-chuvinhá, por onde andas tu, linda de suzá?) came back with a fucking vengeance. Tem-me valido a música (na acepção mais lata, concedo)... É irónico que alguém tão impassível como eu goste tanto de música que vive nos extremos não só do espectro sonoro (entre os subsons e os infra-sons nada senão ruído branco) como nos do espectro emocional - ódio, pânico, luxúria, desespero. Melancolias, tristezas sussurradas, belezas funéreas (noutros tempos o pão meu de cada dia) parecem ter por inteiro perdido lugar no imenso vazio do meu ínfimo universo: nick drake, durutti column, blue nile, to name but three, por onde têm vocês andado? Tudo o que ouço poderia fazer parte da banda sonora dos gritos do munch (não dos do wes craven) e, no entanto, olhando para mim, eu (mais ninguém o faz), em cuja existência nos últimos anos nem o mais subtil dos instrumentos detectaria uma oscilação, um estremecimento, acabo sempre a perguntar-me se é por falta de alma (ânimo) que me empanturro assim de som e de fúria... O lado positivo de tudo isto é que, tendo começado esta jeremíada com a intenção de deixar um post-it (três linhas a ameaçar a chegada, um destes dias, de trinta) acabei por dactilografar uma coisa em forma de assim que, considerando a crise e as baixas expectativas de um público à beira da extinção, não me parece indigna de suceder às merdas solipsistas que a precederam...
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